Curta Cinemateca Especial
Por Tony Tramell
19/10/2011
Na próxima quinta (20) a Cinemateca Brasileira realiza a próxima edição do Curta Cinemateca Especial, às 20h. O evento é dedicado à projeção de curtas-metragens de novos realizadores brasileiros, o projeto exibe este mês cinco obras de ficção finalizadas entre 2010 e 2011: Nigéria "fim da linha", de Elder Fraga, O Caçador, de Gui Reali, Qual sua loucura?, de Rafaela Uchoa, De olho no olho, de Aland Medina e Victor Hugo Simões, e Parede branca do que poderia ser, de Pedro Paulo de Andrade.
O Almanaque Virtual entrevistou um dos cineastas, Elder Fraga, cujo primeiro curta, O Último Dia, vem participando de diversos festivais no Brasil e em outros países da América do Sul.
ALMANAQUE VIRTUAL: Como surgiu o tema do curta?
ELDER FRAGA: Sempre tive uma curiosidade com os Nigerianos que circulavam no centro de São Paulo, depois comecei uma pesquisa sobre o país, a Nigéria, e aí começou a nascer o filme. Sob ditadura militar desde 1983, a Nigéria amarga uma inflação de 50% e uma crise econômica que parece eterna. O país é uma gangorra social, em que a maioria da população sustenta uma elite nas alturas. A renda per capita é de 280 dólares e o analfabetismo atinge 58% da população. A cidade de Lagos, um dos mais movimentados portos do mundo, é um queijo suíço, onde todo tipo de falcatrua passa incólume. Na língua falada lá, o hausa, existem 23 palavras ou expressões que significam corrupção. Depois veio a máfia nigeriana que todos falavam. Dados do DENARC referem que os nigerianos compram cocaína dos traficantes da Colômbia e da Bolívia a 3.500 dólares o quilo e vendem- na a 20 mil dólares na Europa. Nos últimos três anos foram detidos, só em São Paulo, 300 traficantes ao serviço da máfia da Nigéria, mas as autoridades admitem que este número possa duplicar se forem contabilizados os outros traficantes detidos em aeroportos internacionais brasileiros do norte e sul do país. Os nigerianos subiram na hierarquia do tráfico de entorpecentes no Brasil e, segundo a Polícia Federal, no último ano passaram de "mulas" (pessoas contratadas para transportar drogas) a agenciadores (os que contratam). O Federal Bureau of Investigations (FBI) estimou em relatório oficial que os integrantes da Nigerian Criminal Enterprises, são os mais expansionistas e agressivos grupos criminais internacionais. Contabilizou a favor deles um movimento de US$ 8 bilhões em negócios ilícitos apenas no ano passado. Em tempo: a Conexão Nigéria é acusada, ainda, de ter ligações com 90% do tráfico mundial de heroína.
AV: A temática policial já estava presente no seu curta de estréia, o Último Dia, é um estilo com o qual você se identifica mais?
Elder Fraga: Adoro a temática policial, dá para tirar ótimas histórias, O Ultimo Dia também nasceu da questão dos grupos de extermínio dentro da policia e o Nigéria "fim da linha", vem por esse caminho também. Estou me dedicando meus novos roteiros por esse caminho. Já tenho 6 prontos, bom tem muita coisa legal dentro desse tema. Gosto de misturar realidade com ficção, tive no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), lá pesquisei sobre os dois filmes foi tudo muito rico para mim.
AV: Atualmente, como você vê o espaço para a produção e exibição de curtas?
Elder Fraga: Temos no Brasil e no exterior um grande circuito de festivais que possibilita uma carreira longa do filme, meu primeiro curta O Último Dia foi selecionado para 18 festivais até agora. Sendo 4 internacionais como: 12º Festival Internacional de Cinema Fantástico (Buenos Aires Rojo Sangre - Argentina),Montevideo Fantástico VI (Uruguai),2ª Mostra CORTADOS (Argentina),9º Arouca Film Festival (Portugal). Além de passar por festivais importantes no Brasil como: VII Festival Latino-Americano de Curtas Metragens de Canoa Quebrada (Ceara - Fortaleza),CineFantasy - Festival Internacional de Cinema Fantástico ( SP), V Festival Curta Cabo Frio (RJ). Além de ser premiado no 3º Festival Art Déco de Curtas e Docs (SP) como Melhor filme e Melhor direção de arte e no Guarú Fantástico / 1ª Mostra de Curtas Fantásticos ( Guarulhos -SP ) como Melhor Fotografia e Melhor Efeitos Especiais. Sem falar que depois das exibições no circuito de festivais ainda podemos vender para TV e colocar na web.
AV: Qual foi a maior dificuldade na realização do Nigéria "fim da linha"?
Elder Fraga: É sempre difícil escrever sobre algo que muitas vezes não faz parte da nossa realidade, mais no filme, tive um ator Nigeriano que conhece muito bem essa realidade e me ajudou na pesquisa, fiquei mais seguro para tratar do tema, o outro passo foi colocar os atores brasileiros dentro dessa realidade, então fiz alguns bate papos com o ator nigeriano e começamos o trabalho dos ensaios com o Eduardo Silva na primeira etapa e o Bruno Giordano na segunda. Além do ator nigeriano James Ekwegh, contei com elenco de atores que fizeram uma grande pesquisa sobre a Conexão Nigéria como Rogério Brito, Renata Fasanella, Carlos Francisco, Eduardo Acaiabe, Olimaris Anton e Carlos De Niggro.
AV: Quanto tempo levou a realização do curta?
Elder Fraga: O Nígéria - Fim da Linha, foi filmado em 9 diárias, sendo duas no interior em Ibiúna e o restante em São Paulo capital, mais tivemos o processo de ensaios de 15 dias.
AV: Qual o próximo projeto?
Elder Fraga: Acabei de filmar e devo lançar somente em 2012 e vai se chamar Boca Fechada, é um filme de humor negro que é livremente inspirado na obra de Charles Bukowski, no elenco um ator chinês Tony Lee, uma japonesa Akemi Higashi, Gabriela Wazlawick e meu grande parceriro Ricardo Gelli, foi muito divertido nosso set e acho que as pessoas vão rir muito com esse trabalho.
Realizadores interessados em exibir seu filme nas sessões mensais do projeto da Cinemateca Brasileira podem enviar seu pedido para o e-mail programacao@cinemateca.org.br.
Mais informações, bem como as sinopses e fichas técnicas dos filmes selecionados, no site www.cinemateca.gov.